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Mark Weisbrot  
Fohla de São Paulo, 28 de novembro, 2009
Em inglês

Umam transforma ção política memorável vem ocorrendo no hemisfério ocidental nos últimos dez anos: a América Latina, região que no passado chegou a ser vista como o “quintal” dos Estados Unidos, hoje é mais independente de Washington do que a Europa.

Ao mesmo tempo em que a América Latina mudou, contudo, a política externa dos EUA não fez o mesmo -nem mesmo agora, com a eleição do presidente Obama. Por isso, a região, incluindo o Brasil, se vê cada vez mais às turras com Washington. O golpe militar em Honduras é apenas um exemplo recente e gritante disso.

O presidente eleito é sequestrado sob a mira de armas e enviado para fora do país; seus partidários são detidos aos milhares, espancados e torturados, e alguns chegam a ser mortos pelas forças de segurança; órgãos de mídia que se opõem ao golpe são intermitentemente fechados e têm seus equipamentos confiscados.

Apesar da ampla condenação desses crimes por parte de grupos de defesa dos direitos humanos em todo o mundo, o regime golpista agora tenta legitimar-se com uma “eleição”. Quase todos os países da América Latina dizem “não, é preciso primeiro restaurar a democracia, as liberdades civis e os direitos humanos fundamentais”. Washington apoia a “eleição”. Não é apenas na questão da democracia que Washington se vê do lado errado da história. Os EUA também erraram na questão econômica.

Entre 1960 e 1980, quando, segundo o folclore de Washington, os governos da região não souberam acertar nada, a renda do latino-americano médio cresceu 89%. De 1980 a 2009, período repleto de reformas neoliberais patrocinadas por Washington, ela subiu cerca de 18%. Não surpreende que, nos últimos dez anos, a maior parte do eleitorado da região tenha votado contra as políticas neoliberais.

Não chega a ser reconfortante o fato de que os autores das políticas que fracassaram na América Latina agora tenham conseguido afundar a economia americana também. Basta mencionar a “guerra às drogas” travada por Washington no hemisfério como mais um fracasso colossal que vem pisoteando a soberania de vários países. Agora a administração Obama está levando adiante a política de Bush de castigar a Bolívia por suas “ofensas” dúbias, aplicando sanções comerciais ao país.

Quanto à política de segurança, a decisão dos EUA de ampliar a presença militar na Colômbia, uma vez mais batendo de frente com quase todos os governos da América do Sul, vem convertendo o país em força sobretudo desestabilizadora na região. O Brasil não pode se dar ao luxo de aguardar nos bastidores, sem nada fazer, enquanto os Estados Unidos causam problemas na América Latina -de maneira mais grave no caso de Honduras, ameaçando empurrar a região de volta a uma era mais brutal, em que os militares podiam derrubar governos eleitos que desagradassem a Washington e às elites locais. Quanto à política exterior à região, o interesse do Brasil em dialogar com todas as partes no Oriente Médio é mais que bem-vindo.

O Brasil possui vantagens que o capacitam a exercer um papel positivo: Lula é um dos líderes mais populares do mundo, seu país possui uma equipe diplomática habilidosa e o Brasil não tem conflitos de interesses que possam impedi-lo de ser um mediador honesto. O Brasil de Lula já rejeitou educadamente, mas com firmeza, as políticas dos EUA em relação a várias questões importantes, incluindo a Alca, a tentativa de Washington de aprovar um acordo que seria prejudicial aos países em desenvolvimento nas negociações de 2003 da OMC e a tentativa fracassada da administração Bush de isolar a Venezuela na região.

Em relação a todas essas questões, além de outras, o Brasil mostrou estar com a razão e demonstrou que seu posicionamento era necessário. Na ausência de grandes mudanças na política externa ou na política comercial internacional dos EUA à vista, uma política externa brasileira independente e assertiva deve tornar-se mais importante que nunca.


Mark Weisbrot é co-diretor do Center for Economic and Policy Research em Washington, DC