January 04, 2012
Mark Weisbrot
Folha de São Paulo(Brasil), 4 de janeiro, 2012
Em inglês
É como se não tivessem aprendido nada com as mentiras e a sede imperial de poder que nos arrastaram para uma guerra assassina com o Iraque que consumiu trilhões de dólares. Na sexta, o conselho editorial do “New York Times” aplaudiu as ameaças militares dos EUA contra o Irã e pediu “pressão econômica máxima” contra o país.
E esse é o mais influente jornal “progressista” da América. A imprensa de direita, com um discurso de ódio que alcança milhões de pessoas por dia, é ainda pior.
O Irã vem reagindo com ameaças próprias de fechar o estreito de Hormuz -por onde passa um sexto do petróleo do mundo- se os EUA cortarem suas exportações de óleo. Não surpreende, já que o governo americano tenta estrangular economicamente o Irã. O enorme esforço diplomático e de propaganda internacional dos EUA pode não levar imediatamente a uma guerra -como foi o caso com a Guerra do Iraque, o timing de qualquer ataque será sujeito a considerações eleitorais.
O problema é que essas pessoas deitam as bases para uma guerra que ocorrerá quando o presidente decidir que convém. Quando essa hora chegar, é provável que seja tarde demais para impedir a guerra. Foi o que ocorreu no Iraque.
A marcha em direção à guerra acelera-se agora devido às eleições de 2012 nos EUA. A primária presidencial republicana é em sua maior parte um circo, com todos os candidatos, menos o libertário Ron Paul, lançando chamados por guerra e criticando Obama por não ser “suficientemente duro”. Como Obama tenta arrebatar votos dos republicanos, sua reação é mostrar-se o mais aguerrido possível sem de fato iniciar uma guerra real.
Enquanto isso, o Congresso, com a Câmara controlada por republicanos e o Legislativo inteiro fortemente pelo lobby de Israel, soma mais pressão em favor da guerra.
Mas que ninguém se engane, imaginando que essa promoção da guerra em um ano eleitoral reflete a vontade dos eleitores americanos.
Os pré-candidatos republicanos estão competindo na primária pelos votos dos eleitores mais de direita, mais extremistas pró-guerra no mundo, e Obama os está seguindo.
E o lobby de Israel está seguindo o governo israelense de direita, pró-guerra. Mas dados de pesquisas indicam que, a despeito da lavagem cerebral diária, a imensa maioria dos americanos não deseja uma guerra com o Irã.
Como a mídia americana não reconhece a vontade da sociedade civil independente no que tange questões de política externa, a voz do povo americano passa sem ser ouvida. E não ajuda o fato de o governo americano ter usado sua influência na ONU para nomear um chefe submisso da Agência Internacional de Energia Atômica. Isso pode explicar a mudança recente de tom da agência, que adotou discurso mais aceitável pelo lado favorável à guerra.
Por isso tudo, apelamos ao Brasil e a outros governos que não querem essa guerra que nos ajudem a impedi-la. Quando, em maio de 2010, o Brasil e a Turquia propuseram um acordo de troca de combustível nuclear do Irã, isso funcionou como freio temporário da máquina de guerra. Precisamos de mais ajuda diplomática desse tipo.
Tradução de Clara Allain. Mark Weisbrot, codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington, e presidente da Just Foreign Policy, passa a escrever quinzenalmente às quartas-feiras.