January 15, 2013
Dean Baker
Valor Econômico (Brasil), 19 de dezembro, 2012
Em inglês
A Europa e os Estados Unidos podem esperar outro ano de crescimento fraco em 2013, graças ao fato de estarem conduzindo suas economias de acordo com uma teoria econômica que se mostrou equivocada há mais de 70 anos. Tanto a Europa como os Estados Unidos, a primeira mais que o segundo, são obcecados por políticas de austeridade fiscal, quando a moderna teoria econômica defende claramente o estímulo. O resultado será outro ano de crescimento quase zero para a Europa e uma taxa de crescimento para os EUA que na melhor das hipóteses será suficiente para impedir um aumento da taxa de desemprego.
No caso da Europa, as políticas da zona do euro estão sendo em grande parte determinadas pela Alemanha. O Banco Central Europeu (BCE) basicamente assumiu a posição de garantidor das dívidas dos países da periferia do euro, mas a condição de manter essa garantia é um aperto contínuo dos orçamentos, com mais impostos e menos gastos. Com os principais países do bloco também cortando seus orçamentos, não existe praticamente nenhuma perspectiva de uma retomada do crescimento para os países da zona do euro.
O BCE não é o único que está no caminho do crescimento da Europa. O Reino Unido também optou por mergulhar em uma recessão ao adotar uma política fiscal restritiva. Na melhor das hipóteses, conseguirá manter um crescimento mínimo em 2013.
Nos Estados Unidos, a história é parecida. A tendência é o PIB crescer aproximadamente 2,4% neste ano, segundo a maioria das estimativas. O país conseguirá, na melhor das hipóteses, sustentar esse crescimento em 2013, graças em parte a uma retomada do mercado imobiliário residencial. No entanto, há um risco de a situação se agravar por causa do atual impasse em relação ao orçamento. A necessidade de redução do déficit fiscal tornou-se o caso de um acordo bipartidário em Washington, apesar da necessidade óbvia de se incorrer em déficits para estimular a economia.
Embora a taxa de desemprego nos EUA tenha caído do pico de 10% registrado em outubro de 2009 para 7,7%, segundo os dados mais recentes, a taxa de empregos sobre a população não dá sinais de melhoria comparável. Ela está apenas 0,5 ponto porcentual acima do ponto mais baixo alcançado no terceiro trimestre de 2011, 4,7 pontos porcentuais abaixo do nível pré-recessão. Mesmo por medidas conservadoras, o PIB está mais de 6% abaixo de seu potencial. A economia não deverá recuperar muita coisa desse terreno em 2013 – se é que vai recuperar algo.
O mundo em desenvolvimento está com todas as melhores promessas econômicas para 2013, uma vez que os governos desses países parecem menos inclinados a adotar políticas econômicas antiquadas e a maioria deles agora tem liberdade para adotar suas próprias políticas.
O leste da Ásia deverá continuar apresentando o maior crescimento. Os dados mais recentes vindos da China indicam que sua economia poderá voltar a acelerar, com o crescimento podendo ficar perto de 8% em 2013. O resto da região também deve apresentar um crescimento vigoroso, ainda que um pouco menor.
A Índia e outras economias do sul da Ásia terão taxas de crescimento respeitáveis, na casa dos 5% a 6%. As preocupações com a inflação e gargalos na produção estão impedindo a região de apresentar o mesmo crescimento que o leste da Ásia.
A maioria da África subsaariana também deverá ter um crescimento na casa dos 5%, graças aos altos preços das commodities e os investimentos estrangeiros, grande parte deles oriunda da China.
A maior parte da América Latina também terá em 2013 um ano um pouco melhor que 2012, com os países se afastando de políticas anti-inflacionárias. A maior exceção deverá ser o México. A fraqueza da economia dos EUA será um grande obstáculo para a economia mexicana em 2013.
Os caminhos divergentes dos países em desenvolvimento e das economias ricas é um acontecimento encorajador. Nas décadas anteriores, condições próximas da recessão na Europa, juntamente com o fraco crescimento dos EUA e do Japão, praticamente garantiam um crescimento fraco na maior parte do mundo em desenvolvimento. No entanto, o crescimento da China ao longo das últimas três décadas e o crescimento de muitos países latino-americanos na última década criaram um novo polo para o crescimento mundial. Como resultado, o crescimento do mundo em desenvolvimento deverá continuar em ritmo acelerado ao mesmo tempo em que políticas econômicas antiquadas levem as economias ricas à quase estagnação.
Ainda é muito cedo para afirmar com certeza, mas é provável que estejamos vendo uma mudança permanente na economia mundial, em que os países ricos não precisam mais sustentar o crescimento. O crescimento dos mercados emergentes provavelmente continuará sendo mais rápido com a influência de um crescimento vigoroso na Europa e nos EUA, mas no futuro, esses países deverão conseguir sustentar seu crescimento independentemente do desempenho econômico dos países ricos.
É difícil realçar a importância desse acontecimento. A maior parte do mundo em desenvolvimento foi forçada a suportar duas décadas de quase estagnação entre 1980 e 2000, em grande parte resultado de políticas econômicas impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Se os países ricos não conseguirem mais ditar políticas econômicas equivocadas para o mundo em desenvolvimento, então este estará livre para adotar políticas que resultem em um crescimento mais acelerado e mais igualitário.
É claro que não há garantias de que os países em desenvolvimento conseguirão sustentar um crescimento firme. Muitas vezes esses países adotaram suas próprias políticas equivocadas. No entanto, se eles não tiverem mais que enfrentar também as políticas equivocadas impostas pelos países ricos, isso será um passo enorme para o mundo em desenvolvimento.