O Que Estão Fazendo Com a Argentina?

June 19, 2002

19 junho 2002, Mark Weisbrot     Em espanhol     Em inglês

O Que Estão Fazendo Com a Argentina?

Por Mark Weisbrot

Knight-Ridder/Tribune Information Services – 19 junho, 2002
Miami Herald – 25 junho, 2002
Record -Herald (Washington Court House, Ohio) – 7 julho, 2002

Repórteres de um programa popular da televisão Argentina tiraram muito sarro do chefe da “delegação Argentina” do FMI. Entregaram a ele um par de dentaduras de vampiro plásticas: “Encontramos a dentadura no pescoço do Presidente Duhalde”, disseram, “e queríamos entrega-lo ao senhor”.

Essa visão do FMI é comum na Argentina, ao contrario da visão da imprensa em Washington e de grupos políticos daqui. Em Washington o debate é sobre se o FMI deveria “ajudar” a Argentina que no momento está sofrendo uma depressão econômica de quatro anos, junto com o colapso de sua moeda, e de seu sistema bancário e a desistência do pagamento da divida pública. Enquanto as pombas dizem: sim, devemos ajuda-los; o falcão diz não, até o governo mostrar vontade para reforma.

Ajudar ou não? As duas opções não retratam a situação atual bem. O FMI não está oferecendo nenhum tipo de ajuda a econômia Argentina e mesmo se eles chegarem a algum acordo não existirá dinheiro “novo” – só dinheiro para pagar o fundo e outros como o Banco Mundial.

A Argentina não está enfrentando a simples escolha entre aceitar ou recusar essa ajuda. A situação é muito pior que isso. O FMI está usando seu poder como lider de um cartel internacional para prolongar o sofrimento da Argentina. Não há disponabilidade de crédito internacional do Banco Mundial ou de governos europeus. E pequenos empréstimos estão sendo controlados até o FMI der o “okay.”

A seguinte distinção é importantíssima… Imagine uma pessoa morrendo afogada, outra a vê e não diz ou faz nada. Isto sería algo moralmente condenável. Mas, imagine se esta pessoa que está morrendo afogada tenta se ajudar e sair da piscina, e a outra pessoa a chuta para dentro da água. Este ultimo caso é bem pior. Não só através do ponto de vista moral como também através do ponto de vista prático: a pessoa morrendo afogada poderia se salvar – sem a interferência da outra.

O FMI está praticando um tipo de extorção brutal! Dois meses atrás o Banco Mundial ía mandar 700 milhões de dólares para um programa que iria ajudar os pobres e desempregados Argentinos – hoje um quarto da população que pode trabalhar na Argentina. Mas, decidiram esperar a decisão do FMI.

Em uma visita que fiz recentemente a Argentina conheci o Dr. Nestor Oliveri, um médico que dirige uma clinica para pobres do bairro Matanza, nas redondezas de Buenos Aires. Ele me mostrou crianças brincando em cima de esgoto ao ar livre. “Eles brincam e depois ficam muito doentes. Temos trinta porcento de desnutrição entre as crianças deste bairro.”

É as coisas estão ficando piores em um país que até pouco tempo atrás era um dos mais ricos da America Latina.

O que o FMI quer da Argentina? Depois de 6 meses de conversas e pressão, nada está claro. O governo já concordou em fazer tudo que o fundo pedir, incluindo cortar os gastos dos governos provinciais e a modificação das leis que determinam os critérios do que é falência. E o FMI continua mudando suas métas e criando novas demandas. Alguns analistas financeiros concluiram que o FMI está punindo a Argentina por não ter pago sua divida externa. Ela está servindo como um exemplo do que pode acontecer com qualquer país que ousar fazer o mesmo.

As políticas do fundo podem piorar a depressão, causando centenas de desempregos e consequentemente reduzindo as demandas da econômia. Por quatro anos o FMI diz que o único modo para permitir que a econômia cresça é através da restauração da confiança de investidores, especialmente de investidores extrangeiros. Mas as medidas que eles recomendam, como cortar os gastos do governo, tem piorado e enfraquecido a econômia. Estas politicas tem tido o efeito oposto. Mas o fundo continua as apoiando.

Como nenhum outro país que pede ajuda ao fundo, a Argentina tem um superávit em termos de seu comércio exterior. Isto significa que a Argentina não precisa de financiamento externo. Muito menos de ajuda no seu sistema bancário que hoje funciona usando pesos.

O país está finalmente em uma etapa onde ele pode se recuperar sozinho. Neste momento, o maior obstáculo para que a Argentina cresça é o própio FMI. E enquanto a crise continua, a Argentina terá que tentar escapar das garras do poderoso FMI.


Mark Weisbrot é co-diretor do Center for Economic and Policy Research

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